quarta-feira, 24 de março de 2010

Cerrado e Pantanal podem ajudar no desenvolvimento sustentável

A formação de pesquisadores especializados na biodiversidade do Cerrado e do Pantanal foi um dos temas principais da abertura oficial da Conferência Regional de Ciência e Tecnologia do Centro-Oeste, nesta segunda-feira, dia 22

O encontro, preparatório para a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), termina nesta terça-feira, dia 23, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá (MT).

O secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Luiz Antonio Elias, destacou que as particularidades de cada região são importantes para construir uma política pública forte e consolidada. "Não podemos fazer uma política nacional sem conhecer as particularidades e necessidades de cada região. O Plano Nacional de C&T é para todo o Brasil", disse.

O Cerrado abrange 2.055.034 km², dos quais 57% estão no Centro-Oeste. Já o Pantanal ocupa mais de 60% de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os dois biomas abrigam um rico patrimônio de recursos naturais. O secretário de Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Chico Daltro, foi categórico: "Aqui [no Cerrado e no Pantanal] temos valores científicos capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável para o país."

Nesta segunda-feira, dia 22, os participantes foram divididos em quatro grupos. Na tarde desta terça-feira será elaborado o documento com as propostas finais do evento. Para o secretário de Ciência e Tecnologia de Goiás, Joel Braga Filho, o diferencial do Centro-Oeste são os biomas. "Esperamos levar o que é de mais importante para o uso sustentável do Cerrado e do Pantanal em prol da CT&I nacional. Para isso, precisamos de profissionais capacitados e conhecedores da nossa biodiversidade", avaliou.

Rede Pró Centro-Oeste

O secretário executivo Luiz Elias lembrou que o governo investe na formação de profissionais qualificados e especializados no Cerrado e no Pantanal. Em 2009 foi criada a Rede Pró Centro-Oeste de Pós-graduação, Pesquisa e Inovação. Quinze instituições de ensino superior dos três estados e do Distrito Federal participam da rede de pesquisa, que objetiva aumentar o número de estudos sobre os dois biomas.

A Rede Pró Centro-Oeste terá ainda 452 pesquisadores e 25 instituições públicas e privadas. Outro destaque do projeto é aumentar a quantidade e a qualidade das teses e dissertações acadêmicas sobre biotecnologia e geodiversidade e biodiversidade dos biomas.

A conferência regional do Centro-Oeste é o segundo evento preparatório para a 4ª CNCTI a ser realizado. Na semana passada, Belém (PA) sediou o encontro da Região Norte. Ainda nesta semana, Porto Alegre (RS) sedia o evento da Região Sul, nos dias 25 e 26). Na sequência, ocorre em Vitória (ES), nos dias 30 e 31, a Conferência Regional do Sudeste. Por fim, Maceió (AL) sedia o encontro regional do Nordeste, dias 15 e 16 de abril.

(Assessoria de Comunicação do MCT)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Amazônia precisa de mais capital intelectual, reiteram gestores

Segunda-Feira, 22 de março de 2010
JC e-mail 3973, de 22 de Março de 2010.
Amazônia precisa de mais capital intelectual, reiteram gestores

2ª Conferência Regional Norte de Ciência, Tecnologia e Inovação terminou na sexta-feira, 19 de março.

"Sabemos do que a Amazônia precisa. Um dos grandes gargalos é a falta de capital intelectual. Não há outra forma de tirar proveito das riquezas da região se não for por meio da geração de conhecimento". A declaração é do diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Odenildo Teixeira Sena, durante a 2ª Conferência Regional Norte de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Segundo ele, não há nada de novo nos discursos sobre a Amazônia, bem como na formação de recursos humanos e investimentos. Isso ocorre porque o que é dito não está tendo ressonância. "Estou cansado de ouvir falar sobre a Amazônia sem que isso se reverta em ações. Os resultados obtidos foram por meio de iniciativas próprias dos Estados do Amazonas e do Pará, por exemplo", salientou.

De acordo com Sena, o problema da falta de ressonância ocorre porque não há compreensão do brasileiro sobre o que representa a Amazônia. Ele explicou que falta compreensão, sensibilidade e ações políticas, como as que criaram a Universidade de Campinas (Unicamp) e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). "O resto do Brasil já pagou caro pelo crescimento de Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro", frisou.

Durante a conferência, Sena apresentou os resultados dos investimentos feitos pelo Governo do Estado, por meio da Fapeam, formação de recursos humanos, infra-estrutura para laboratórios, grupos de pesquisa. Claro que, segundo ele, muito já foi feito, mas é pouco para o que a Amazônia precisa.

"De 2003 a 2009, o Amazonas investiu mais de R$ 198 milhões em ciência. Desse total, as instituições mais beneficiadas foram o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa, com R$ 53,27 milhões), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam, com R$ 48,5 milhões) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA, com R$ 25,5 milhões)", informou e acrescentou que a região está vivendo um momento diferente, todavia, é indiscutível dizer que a região ainda carece de recursos.

Não há outra saída a não ser considerar a Amazônia como estratégica, defendeu Sena. Ele reforçou que é preciso assumir o desafio de reduzir desigualdades, como aumentar o número de mestres e doutores e incentivar que outras instituições também façam pesquisa. O presidente da Fapeam citou como exemplo os casos bem sucedidos da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM), Hemoam.

A diretora técnico-científica da Fapeam, Patrícia Sampaio, lembrou que a Amazônia permaneceu separada do Estado brasileiro por mais de 200 anos e compõe esse Estado que insistimos de chamar de nacional. Por isso, é preciso reconhecer que se deve reunir esforços para homogeneizar formação de recursos humanos e doutores para desenvolver a região. "Temos que marcar posição, precisamos formar competências, mas não temos pesquisadores suficientes", frisou.

Todas as ações implementadas pela Fapeam são realizadas por meio de bolsas, ressaltou Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (Musa). Ele salientou que não há como viver dependendo sempre das bolsas de doutorado. É preciso negociar ações políticas para a criação de vagas para as instituições de ensino e pesquisa do Norte. "A Receita e a Polícia Rodoviária Federal conseguem. Por que as instituições de pesquisa não conseguem?", questionou.

Segundo Candotti, é preciso oferecer emprego para fixar os doutores na Amazônia por meio de uma política de longo prazo. Dessa forma, será possível transformar o Polo Industrial de Manaus em um local produtor de tecnologia. "É um desafio, mas precisa ser feito", observou.
(Com informações de Luís Mansuêto, da Agência Fapeam)

Evento reuniu cerca de duas mil pessoas

A grande participação do público na 2ª Conferência Regional de Ciência e Tecnologia é reflexo da importância que a região norte tem para a construção de políticas públicas do setor, específicas para a Amazônia.

De acordo com os números da organização do evento, foram quase dois mil participantes vindos de todos os Estados da região Norte, incluindo a cidade de Belém, além de pesquisadores do Distrito Federal, Paraíba, Piauí e Rio de Janeiro.

O coordenador do evento, professor Roberto Limão atribui a grande participação no evento ao fato da sociedade querer participar das decisões no âmbito da busca por políticas em CT&I, além da facilidade de inscrição pela internet.

"Os dois grandes motivadores para o grande número de participantes foram o próprio processo de inscrição pela internet, que permitiu qualquer pessoa, de qualquer lugar, se inscrevesse sem nenhum problema e o interesse maior das pessoas em participar das decisões de sua região", afirma Limão.

Maria de Lourdes Azevedo, da Secretaria de Estado do Planejamento de Rondônia, afirma a importância na participação do evento para as decisões de políticas públicas em CT&I na Região.

"O evento é importante para a ciência e tecnologia na busca de recursos para a aplicação na nossa região, e estar aqui possibilita detectar as dificuldades em comum a cada Estado, juntar forças para assim levar a proposta para o evento Nacional", argumenta a professora.

A necessidade de representar o seu Estado na CRCTI também é lembrada por Margareth Barbosa, bióloga da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre. "É necessário para a dinâmica do evento a participação de todos os estados, e o Acre não poderia ficar de fora dos trabalhos dessa conferência regional, já que irão representar toda a região Norte", diz a bióloga.
(Informações da Assessoria de Comunicação da Fapespa)


sexta-feira, 19 de março de 2010

Programa Família No Museu

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quarta-feira, 17 de março de 2010

Formação de Engenheiros

terça-feira, 16 de março de 2010
Postado por Roberto Lobo
no blog

No dia 25 de agosto de 2009, postei aqui uma matéria sobre a necessidade de aumentar o número de engenheiros formados para que não houvesse carência destes profissionais durante o período que pode se caracterizar pelo esperado crescimento econômico do Brasil.A matéria, pouco modificada, foi publicada na Folha de São Paulo, que no dia seguinte apoiou a idéia em seu editorial. Pouco depois, fui chamado para apresentar estas idéias no programa dirigido por José Paulo de Andrade, “Manhã Bandeirantes”.
Pouco depois, em Brasília, comentei o tema com o professor Jorge Guimarães, presidente da CAPES, que me informou que havia um grupo pensando neste assunto, que imediatamente incorporou minha proposta. Com a Presidência da CAPES e este grupo, a idéia apresentamos ao Ministro Haddad, que foi muito receptivo.
Foi solicitado, então, pelo Ministro que o grupo preparasse uma proposta formal. Para isso, foi criado um grupo de trabalho específico pela presidência da CAPES em 5 de fevereiro de 2010, do qual fiz parte, juntamente com os coordenadores de área de Engenharia da CAPES, do CNI e das instituições comunitárias.
O projeto, denominado “Plano Nacional Pró-engenharia”, foi entregue pelo grupo acima descrito, juntamente com o professor Jorge Guimarães, ao Ministro da Educação no dia 25 de fevereiro último.

Deficiência no ensino dificulta formação de engenheiros

(Agência Senado)

Escassez de mão de obra especializada nas áreas de engenharia foi tema de audiência na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) do Senado, nesta segunda-feira, dia 15

As deficiências existentes no ensino médio brasileiro foram apontadas pelo diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, como causa principal da escassez de mão de obra especializada nas áreas de engenharia no país. Ele foi um dos participantes da audiência pública sobre os desafios, necessidades e perspectivas da formação e capacitação de profissionais da área de engenharia no Brasil.

"Há restrições importantes no sistema de formação de recursos humanos no Brasil e, quando se fala de formar pessoas no nível de ensino superior, talvez a principal restrição não seja falta de vagas no ensino superior, mas falta de qualidade e quantidade de jovens cursando o ensino médio", disse.

Brito Cruz defendeu, como estratégia para o aumento urgente da formação de engenheiros no país, a implementação de cursos de especialização curtos, nos moldes dos existentes nos Estados Unidos. O professor criticou ainda a política educacional desenvolvida pelo governo federal, que segundo ele, privilegia os órgãos de educação federais, deixando de lado importantes instituições municipais e estaduais.

Edinaldo Afonso Marques de Melo, professor da Universidade Federal de Alagoas, reclamou uma participação mais ativa do setor produtivo na formação de profissionais de engenharia no país. Em sua opinião, as empresas do setor deveriam, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos, buscar seus empregados ainda na faculdade, realizando seleções e oferecendo estágios aos estudantes de engenharia.

O professor alertou aos parlamentares sobre a necessidade de se elevar o piso salarial dos engenheiros no país para se evitar a evasão na profissão. Ele considerou de relativa importância para o bom desempenho da profissão de engenheiro a titulação acadêmica de mestrado ou doutorado.

Fernanda De Negri, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destacou a forte correlação existente, de acordo com estudos desenvolvidos pelo instituto, entre pesquisa e desenvolvimento e a demanda das empresas por engenheiros. Ela observou que de 750 mil diplomados em engenharia existentes atualmente no Brasil, apenas 212 mil estão exercendo a profissão.

A pesquisadora chamou a atenção ainda para a importância de se determinar os tipos de engenheiros mais demandados atualmente para sustentar o crescimento do país previsto para os próximos anos. Segundo ela, o fluxo de formação de engenheiros no Brasil é capaz de atender o crescimento da demanda, desde que as taxas de crescimento do PIB não ultrapassem 5%.

Michal Gartenkraut, ex-reitor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), se referiu ao desafio da melhoria da qualidade da formação dos profissionais de engenharia. Em sua avaliação é importante que o Brasil acompanhe a tendência mundial de se retardar a especialização dos estudantes, evitando a escolha prematura de profissões.

Luiz Gonzaga Bertelli, presidente-executivo do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), defendeu a necessidade de se incrementar a qualidade da educação básica no país, para que se tenha profissionais de engenharia mais qualificados.

(Laércio Franzon, Agência Senado)

quarta-feira, 10 de março de 2010

Plano para o Nordeste fomenta debate sobre desigualdade regional

JC e-mail 3965, de 10 de Março de 2010

Em gestação na Câmara dos Deputados, o Plano de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para o Nordeste já foi apresentado ao MCT e deverá ser exposto aos governadores da região no final do mêsO ponto central do debate recai sobre os melhores mecanismos para combater as desigualdades. O plano de desenvolvimento, relatado pelo deputado Ariosto Holanda (PSB-CE), parte da constatação de que o principal instrumento de desconcentração regional dos fundos setoriais - a vinculação de 30% dos investimentos a projetos das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste - não tem funcionado plenamente.

Segundo cálculos do gabinete do deputado, em oito anos, essas regiões deixaram de receber R$ 578 milhões. A principal explicação reside nas dificuldades em atender a exigências dos editais nacionais.Na avaliação de Holanda, o quadro de desigualdade só será revertido com mudanças nas "regras do jogo". Para ele, a lógica de chamadas públicas nacionais operadas pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) trata "igualmente os desiguais".

A principal proposta contida no termo de referência do plano - lançado em janeiro e apresentado ao ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, em 2 de fevereiro - é a separação dos recursos dos fundos setoriais para projetos do Nordeste. O valor capitalizaria o futuro Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Nordeste (FDCTN), que ainda receberia aportes de emendas parlamentares e de outras fontes."Os recursos terão sua origem nos fundos setoriais federais, nos fundos estaduais, nas emendas ao orçamento da União e outros", diz o termo de referência. O texto dá a entender que até os recursos das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) seriam canalizados para o novo fundo. Mas, em entrevista, o deputado Holanda garantiu que não - segundo ele, haveria até a possibilidade de o futuro FDCTN reforçar o caixa das FAPs e induzi-las a investir mais.As mudanças na "regra do jogo" propostas por Holanda incluem ainda a criação do Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Nordeste (CDCTN) e o aumento da ênfase na extensão tecnológica.

O conselho seria o gestor do novo fundo, estabelecendo prioridades e definindo os projetos a serem apoiados. Presidido pelo ministro da Ciência e Tecnologia, nele atuariam governadores, secretários estaduais de C&T, dirigentes das FAPs, governadores, representantes das agências de fomento federais e da comunidade científica.Já a ênfase da extensão tecnológica é um traço marcante da atuação parlamentar de Holanda. Para ele, a política científica precisa ser massificada e associada à educação para cumprir sua função social.

"É preciso conscientizar a academia para valorizar a extensão", disse.CríticasAqui residem os dois pontos mais problemáticos do plano, na avaliação de membros da comunidade científica: introduzir mudanças na gestão científica dos recursos para C&T e mudar seu foco em prol da extensão tecnológica.Alguns dirigentes, como o presidente da FAP de Pernambuco (Facepe), Diogo Simões; o secretário executivo de Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectma) do mesmo estado, Anderson Gomes; e o diretor-presidente da FAP de Sergipe (Fapitec/SE), José Ricardo de Santana, louvaram a iniciativa de um plano que aumente os investimentos em C&T no Nordeste, mas fizeram ressalvas ao seu formato.Em geral, as críticas concentram-se na ideia de criar uma nova instância burocrática - o CDCTN - para decidir sobre a aplicação dos recursos. "A operação dos fundos pela Finep já tem institucionalidade", opinou Santana, da Fapitec/SE. Para o secretário regional da SBPC no Ceará, Marcelino Pequeno, da forma como está apresentado, o plano cria um "ministério" em separado para o Nordeste.

Coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Fotônica, Cid Bartolomeu de Araújo avaliou por e-mail que "transferir recursos nacionais para decisão local pode ser muito perigoso a médio e a longo prazo", pois "a contaminação das avaliações por pressões políticas será inevitável", escreveu o físico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).De acordo com o deputado Holanda, os detalhes da gestão científica do novo modelo ainda estão em aberto. Sua ideia é debatê-los no âmbito do futuro conselho, num processo liderado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Os pontos em aberto no termo de referência saltam aos olhos.Em primeiro lugar, qual percentual dos fundos setoriais seria destinado ao Nordeste? Para Holanda, o tema tem que ser debatido com parlamentares do Norte e Centro-Oeste, usando como referência o tamanho das populações ou o número de instituições científicas. Em seguida, quem operaria o novo fundo?Segundo o deputado, o "agente financeiro seria uma parceria entre o Banco do Nordeste (BNB) e a Finep", mas Holanda não abre mão da definição das prioridades por parte do futuro CDCTN - aí entra a questão no foco na extensão tecnológica.O termo de referência do plano ocupa sete de suas 20 páginas com exemplos de programas e projetos.

A ideia é que cada estado desenvolva um plano local de prioridades para levar ao conselho de gestão do novo fundo. No entanto, para Simões, da Facepe, é "um pouco precoce determinar finalidades" para o futuro fundo.Embora Holanda garanta que a lista não esgota as possibilidades, a lista de projetos tende para a extensão tecnológica. "A extensão tecnológica é necessária para o país, mas isso não se confunde com a pesquisa", afirmou Pequeno, da SBPC no Ceará. Para o professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará, os investimentos em extensão tecnológica não precisam ser feitos com mudanças na finalidade dos fundos setoriais, em detrimento da pesquisa básica.Grupos locaisPara muitos, a diminuição das desigualdades depende do fortalecimento de grupos de pesquisa locais, trabalho de longo prazo. Anderson Gomes, da Sectma/PE, lembrou que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), desde o segundo semestre do ano passado, universalizou a oferta de bolsas no Norte e Centro-Oeste. "O mesmo deve ocorrer em breve para a região Nordeste", escreveu por e-mail Gomes, que também é coordenador da área de Astronomia/Física da agência.S

imões, da Facepe, destaca que a descentralização da liberação de recursos por meio das FAPs já é feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Capes e pela Finep. Uma das possibilidades seria repassar para as fundações estaduais os recursos que "sobram" por falta de demanda qualificada.Ao refutar a proposta, o deputado Holanda devolve o debate para a questão do foco na extensão tecnológica. "As FAPs estão preocupadas com segmento da mais alta importância, a pesquisa, mas elas não aceitam recursos destinados a projetos de extensão", disse o deputado, para quem o movimento de aprovação de leis estaduais de inovação é lento e esbarra na falta de capitalização das fundações.

O próximo passo na consolidação do plano será uma reunião dos governadores do Nordeste, marcada para o fim de março. À comunidade científica está colocada a possibilidade de participar do debate - que, com a agenda legislativa dominada pelas eleições, deverá ser longo.

(Vinicius Neder)

Nota da redação: Esta matéria foi publicada na edição 661 do "Jornal da Ciência", que tem conteúdo exclusivo. Informações sobre como assinar a edição impressa pelo fone (21) 2295-5284 ou e-mail jciencia@jornaldaciencia.org.br

segunda-feira, 8 de março de 2010

Pobre região rica

Publicação: 07 de Março de 2010
Alcyr Veras Economista e professor universitário
Quando se fala sobre a economia dos Estados do Nordeste, não se pode esquecer a histórica dependência que esses Estados sempre se submeteram ao Centro-Sul do país. Essa submissão ocorreu, sobretudo, mediante a influência simultânea de dois fatores: a camisa-de-força imposta pelo modelo brasileiro do Governo Central da época, comprometido com os interesses político-econômicos da região sul e, paralelamente, pela passividade e omissão dos políticos e governantes nordestinos que baixaram a cabeça.

Havia, no passado, um forte preconceito (e ainda hoje há, porém um pouco mais brando) em discriminar o Nordeste como uma região pobre e incompetente que vivia de pires estendido à mercê da piedade do poder público. Uma demonstração disso é que, no final dos anos noventa, o então deputado federal paulista, José Serra, em que pese sua reconhecida competência e marcante atuação política, disse, numa declaração infeliz, segundo os jornais da época, que os Estados nordestinos pouco contribuíam para a economia do país e se faziam de vítima para receber recursos do Governo Federal.

Celso Furtado, um dos grandes economistas brasileiros e o mais brilhante entre os nordestinos, fundador da Sudene, em 1959, que depois teve o profundo dissabor de ver aquela Agência de Desenvolvimento Regional ser complemente esvaziada e seus objetivos inteiramente desvirtuados pelos governos militares, destaca em seus livros “Dialética do Desenvolvimento” e “Formação Econômica do Brasil”, que o Nordeste financiou a infra-estrutura e a industrialização de São Paulo, exportando braços e matérias primas. E mais do que isso, foi a cana-de-açúcar nordestina que cobriu o déficit do Balanço de Pagamentos nos períodos em que a atividade cafeeira paulista entrou em crise. Os governos dos Estados do Nordeste pouco fizeram para romper esse vínculo de dependência, ou melhor dizendo, o círculo vicioso da pobreza segundo o sociólogo holandês Gunnar Myrdal.

O modelo primário-exportador foi sempre uma quimera ilusão na cabeça dos povos incautos do terceiro mundo. Banana na América Central; Peles de animais na África; Petróleo na Venezuela; Borracha na Amazônia; Café na Colômbia, etc. Procure observar se esses países, ao longo de anos e anos de exportação desses produtos, conseguiram sair do círculo do subdesenvolvimento. Veja também como estão hoje os países que importaram e ainda importam esses produtos, no eixo Europa e Estados Unidos. Antes de adotar o processo de substituição de importações, o Brasil trocava navios de café e de minérios por iô-iôs, rádios de pilha, cosméticos e meias de nylon. Que prosperidade e independência econômica teve o Rio Grande do Norte quando exportava apenas sal, scheelita, algodão e lagosta?

Mas, o Nordeste, hoje, tem outra cara. O ritmo de crescimento econômico e de expansão urbana vem proporcionando grande impulso às cidades como Salvador, Recife e Fortaleza, cujos distritos industriais caminham para consolidação dos polos de desenvolvimento regional. Esses polos têm grande capacidade de atração de empreendimentos de procedência externa, como podem também se transformar em áreas de convergência em relação à outras capitais da região nordestina.O Rio Grande do Norte é o segundo maior produtor brasileiro de petróleo. Se fosse reformulada a legislação, de modo a dar completa autonomia à exploração do subsolo potiguar, certamente nosso Estado teria o maior PIB do Brasil, em lugar dos irrisórios Royalties que hoje recebe.