terça-feira, 25 de novembro de 2008

Interesse pela USP recuou dez anos

12/11/2008

A Universidade de São Paulo ( USP) , neste ano, tem 138.242 interessados nas 10.557 vagas oferecidas pela melhor universidade do País. A forte competição, no entanto, esconde sério problema: a procura caiu. E muito. Em 2006 foram 170.678 candidatos e em 2007, 140.918. Na prática, o número de inscritos para a Fuvest, a fundação que cuida do vestibular, voltou ao que era dez anos atrás. Não há razão única para esse fato, mas a queda de concluintes do ensino médio tem peso nisso. Sem esquecer outros motivos, como a maior oferta de vagas no Pró-Uni, as bolsas para alunos pobres em escolas privadas ou até a crise na procura pelos cursos de formação de professores.
Porém, há algo um pouco mais complicado nesse quadro. No Estado de São Paulo, 480 mil alunos terminaram o ensino médio em 2007, bem menos que os 560 mil de 1998. Lembrar do novo perfil demográfico, famílias com menos filhos, apesar de relevante, não ajuda. Em outubro, o Censo Educacional 2008 (essencial para a distribuição dos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) revelou que foram 1,3 milhão de matrículas a menos no ensino fundamental, 4,7% menos ante 2007, óbvio impacto demográfico. Já no ensino médio, as matrículas foram 7,1% maiores do que em 2007, 400 mil alunos a mais. Motivo: 98% das crianças entre 7 e 14 anos estão na escola, mas apenas 45% dos jovens entre 15 e 19 anos estão no ensino médio. Em outras palavras: quase todas as crianças estão na escola, enquanto a maior parte dos jovens não está e não vê motivos para procurá-la. Resultado: em 2000, o Brasil possuía 8,1 milhões de matrículas no ensino médio. Hoje, não chega a 6 milhões.
O ensino médio virou o primo pobre da educação nacional. Estudo do Inep/MEC, publicado no O Estado de S. Paulo (7/11) mostrou que o ensino fundamental recebia 63,06% do total dos recursos da educação (era 59,4% em 2000), enquanto o ensino médio permaneceu no mesmo patamar dos 13%. Essa escolha orçamentária gera obrigatórios reflexos na sala de aula. Sem esquecer o problema, talvez bem mais grave do que o orçamentário, a grade curricular, o que é ensinado na sala de aula. Há uma brutal defasagem entre as expectativas (inclusive as profissionais) dos jovens e o ensino que a escola oferece. Para agravar o quadro, políticos descobriram a opção ensino técnico como moeda eleitoral, isto é, abre-se a toque de caixa uma "escola técnica", seja do que for, pouco importa o perfil da demanda. A insensatez também atingiu o ensino médio como caminho da universidade. Há dez anos, todas as projeções educacionais sugeriam explosão de demanda no ensino superior. A iniciativa privada e o setor público prepararam-se para essa expansão. E, curiosamente, a oferta de educação universitária subiu, mas a procura não. O caso paulista é exemplar: em 1998 existiam 300 mil vagas de ensino superior e, em 2006, eram 920 mil.
O projetado aumento da procura por ensino superior não ocorreu pelo absoluto descaso com o grau médio. Essa etapa é uma ponte entre o fundamental e a formação tanto universitária como profissional. No mundo inteiro, sério, é desse modo, 11 anos de escolaridade e, só depois, a escolha entre universidade ou técnico. Esse descaso gerou menos candidatos na Fuvest, além do duelo canibal por alunos entre as instituições privadas, inclusive as que formam tecnólogos. A rede privada de ensino superior sabe que tem muito espaço para crescer: apenas 7% dos nossos jovens entre 19 e 24 anos estão na universidade, metade da Argentina e menos de um terço do Chile. Investidores em universidades também sabem que precisam tratar do futuro do seu mercado, mas pouco fazem. O Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de S. Paulo (Sieeesp) mantém programas de apoio a esse nível de ensino, mas é iniciativa solitária.
A queda nos candidatos da Fuvest é só um alerta de que sem melhorar o ensino médio será difícil tanto aumentar a procura do ensino superior como tornar a mão-de-obra brasileira tecnicamente mais qualificada.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)
LEONARDO TREVISAN* - EditorialistaE-mail:
ltrevisan@gazetamercantil.com.br)

Há 70 anos educando as massas

São Paulo, 3 de Novembro de 2008

No final da década de 1940, o Brasil tinha cerca de 50 milhões de habitantes, a maioria vivendo na área rural e praticamente sem educação. Na época, estudar era uma coisa de elite. Esse Brasil que mais tarde iria explodir industrialmente, e que tudo estava por fazer, serviu de inspiração para o negócio desenvolvido pelos irmãos Warghaftig, Jacob e Michael, o Instituto Universal Brasileiro (IUB). Quase 70 anos depois e 4 milhões de alunos em cursos por correspondência nesse período, o IUB começa em janeiro de 2009 uma nova etapa do ensino a distância. O instituto conseguiu autorização para ministrar cursos técnicos do nível médio reconhecidos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Inicialmente serão quatro cursos: técnico de transações imobiliárias, gestão comercial, secretária e secretária de escola. Para obter o diploma técnico, o aluno precisa ter concluído o ensino médio ou estar cursando - pode ser concomitantemente, desde que o estudante termine o técnico junto com o ensino médio.
Para o presidente do Instituto Universal Brasileiro, Luiz Fernando Naso, a empresa teve de adaptar-se às exigências do mercado, que valoriza o diploma oficial. Além dos futuros cursos técnicos, o IUB é credenciado para ministrar cursos supletivos a distância do ensino fundamental e médio. Do faturamento da empresa, não revelado por Naso, 70% são provenientes dos cursos profissionalizantes.
Embora não concorde com a exigência de diploma oficial para reconhecimento do ensino profissional, o empresário, que chegou até o terceiro ano da faculdade de Direito, tem mantido na grade de ensino a distância cerca de 40 cursos bastante atuais para o mercado de trabalho, como informática, administração, manutenção de computador, eletrônica, mecânica e construção civil.
O embrião do ensino por correspondência da empresa foi o Instituto Monitor, fundado pelos irmãos Warghaftig em 1939. Depois de algumas divergências entre os Warghaftig, houve uma cisão da empresa. Jacob ficou com o Monitor e Michael abriu o IUB. Com um tino comercial bastante aguçado, Michael entendeu a importância de investir em divulgação para vender seus cursos. Em 1942, ao abrir o curso de contabilidade o IUB usou a revista de maior popularidade na época, O Cruzeiro, controlada pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que também importou televisores e instalou a primeira estação de TV no Brasil.
Mesmo com a precariedade dos meios de comunicação da época, a revista era uma grande alavanca para propagar os cursos do IUB. A empresa desde o início - e até os dias de hoje - investe 30% das vendas em propaganda. Em 1952, no lançamento da Capricho, a primeira revista feminina do Brasil, o IUB esteve presente com anúncio de página dupla. Esse apoio dado inicialmente ao empresário Victor Civita, fundador da Editora Abril, valeu para o IUB um estreito relacionamento comercial por décadas. "Em 1982, o IUB tinha pendências financeiras com a Editora Abril, fui pessoalmente falar com o senhor Victor Civita, que parcelou a dívida e voltamos a anunciar", relembra Naso.
Ao 54 anos, o empresário praticamente foi criado dentro dos cursos por correspondência. Em 1952, seu avô, José Naso Júnior, fundou a instituição Ensino Técnico Paulista, tendo como base um curso de relojoeiro. Em 1958, foi a vez de seu pai, Luiz Carlos Naso, jornalista da Rádio Marconi, elaborar um curso de fotografia. Com a revolução de 1964, seu pai, cassado nos primeiros momentos do AI-1 (Ato Institucional n.º1), foi trabalhar na empresa herdada de seu avô, que morrera em 1961. Já nos anos 70, seu pai e os irmãos estavam todos trabalhando na Escolas Associadas de Cursos Livres. Em 1982, após a morte de Michael, a viúva Maria Warghaftig vendeu o Instituto Universal Brasileiro para a família Naso.
De lá para cá, muita coisa mudou. O empresário e o irmão José Carlos promoveram uma ampla reestruturação dentro da companhia. Enxugaram a estrutura de 600 funcionários pela metade e contrataram novos profissionais especializados eventuais, que ajudaram na formulação de cursos, apostilas e aulas. Como forma de baratear os custos de produção de materiais utilizados nos cursos práticos – de beleza, corte e costura, eletricista, jardinagem, aroma e outros -, os irmãos montaram um parque gráfico com 7 mil metros quadrados na cidade de Boituva, a 100 quilômetros da capital paulista. "Trabalhamos com um público carente de conhecimento que não pode pagar um curso muito caro", diz Naso.
Dos seis mil alunos anuais que se formam nos cursos por correspondências profissionalizantes, a maioria paga em média entre R$ 300 e R$ 400. Acima desses valores estão os estudantes que fazem supletivo do ensino fundamental e do ensino médio e pagam em torno de R$ 800 pelos cursos. Nestas modalidades, o IUB tem formado dois mil alunos por ano. Na última formatura, em setembro, no clube Piratininga, em São Paulo, o empresário, que é filiado ao Partido Popular Socialista (oriundo do PCB), convidou como paraninfa da turma a ex-candidata a prefeitura da capital paulista Soninha Francine, também do mesmo partido. A candidata ficou emocionada com o depoimento da aluna Araci, uma senhora de 64 anos que tirou o diploma do ensino fundamental. "Minha filha, desde os dez anos sonho com esse dia e finalmente consegui", disse dona Araci para Soninha, que neste dia não falou de política.
Assim como dona Araci, Naso conta que há depoimentos de pessoas que fizeram cursos profissionais no IUB para ajudar no sustento da família. A história mais famosa na coleção de depoimentos da empresa é de uma senhora no sul da Bahia que estudou pelas apostilas o curso de corte e costura. Com o dinheiro do trabalho de costureira ajudou a formar os filhos, entre eles o ex-ministro da Educação Eraldo Tinoco - no governo Fernando Collor de Mello -, morto em abril deste ano.
Uma peça fundamental nos negócios do IUB, desde a fundação, é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). "No passado, os Correios serviam de ponto de encontro das pessoas que iam buscar suas correspondências. Era o único conhecimento que o Brasil tinha, tirando as capitais", comenta Naso. O empresário reconhece que os tempos modernos trouxeram o computador às casas das pessoas, mas nem todo mundo tem equipamento nos 5.560 municípios brasileiros. Não é à toa que 45 mil correpondências são enviadas pelo IUB, em Boituva, para seus alunos. "Muitas matrículas hoje são feitas pela internet, porém as apostilas e as lições corrigidas têm de ser mandadas pelos correios", afirma Nazo, em sua sala no 11 andar de um prédio antigo no calçadão da avenida São João, na capital paulista. "O Brasil é muito grande e o nosso pessoal vem do Brasil inteiro", diz confiante no ensino a distância.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 1)(Edilson Coelho)

Desafios à universidade nos novos tempos

04/11/2008

A democratização das oportunidades de formação superior para incontáveis contingentes de jovens antes privados de tê-las, sem o perecimento da qualidade de ensino, é o desafio maior que se apresenta à universidade contemporânea. E a pergunta que fica é: como vai poder a instituição, nascida para atendimento cultural das elites, reciclar-se a ponto de popularizar sua matrícula, bem como deixar as lições do saber pelo saber, antes transmitidas pela semântica cifrada e codificada da linguagem científica, para aderir ao novo saber pragmático, quase pontual e tecnocêntrico, exigido pelo exercício profissional dos integrantes desta nossa sociedade industrial e de serviços?
Com a afluência das massas às benesses da civilização, bem como a velocidade das mudanças políticas no século XX, as escolas de todos os graus de ensino foram invadidas por multidões de alunos de diferentes origens sociais e capacidades intelectuais. E, em vez de terem reis e papas como mantenedores, passaram as universidades a ser sustentadas por orçamento público e recursos da bolsa dos usuários. Daí que se obrigaram a participar do dia-a-dia do mundo e a serem exigidas como centros de fornecimento de recursos humanos qualificados, necessários ao pluralismo laboral dos mercados. A ciência e a tecnologia estão se sobrepondo às humanidades, e a velocidade das mudanças assusta a todos, pois não dá mais tempo à maturação das novidades que se multiplicam.
A dificuldade maior para os planejadores está em aproveitar a experiência secular do passado, sem, no entanto, desconhecer as exigências dos tempos presentes. A competição dos que se diplomam no ensino superior tende a ser crescente. Sairá vitorioso o mais criativo, o mais culto e o mais apto a reciclar-se rapidamente, ante às exigências da mutação permanente do conhecimento nesta era de incertezas. Como já dizia Bacon a seu tempo: "conhecimento é poder". Mas de que conhecimento se está falando: o dos sábios do passado ou o dos especialistas do presente? Será que a solução para esse enigma não poderia estar na divisão da competência formativa de uma universidade voltada a um bacharelado que explore em profundidade as bases do conhecimento humano, ficando o preparo e o credenciamento profissional com atores outros, como centros de prática e pesquisa ligados às mais diversas profissões, como hospitais, tribunais, empresas, centro de arte e cousas que tais? E no caso dos cursos superiores profissionalizantes não seria melhor que as universidades, por si próprias ou em parceria com outras organizações não-acadêmicas, atuassem no sentido de formar empreendedores, abandonando a tradição de formar profissionais para serem empregados, segundo modelos superados e insuficientes para os reclamos do mercado em sua dinâmica atual?
Diante dessas ambigüidades e da impossibilidade de praticar-se uma futurição confiável, capaz de prever modelos funcionais de universidades do porvir, toda cautela será pouca nas mudanças que se farão, visando ajustar os cursos às demandas presentes, sem pôr a perder as melhores conquistas do passado. Creio que, por suas regras e por seu ritmo próprio de funcionamento, geralmente mais lento que o desejável, as universidades terão que, cautelosamente, ir experimentando, caso a caso, vários tipos de inovações, no que diz respeito ao preparo de seus alunos para o trabalho. Arrisco mesmo a dizer que, no futuro, a universidade deve cuidar do saber, a partir das raízes do conhecimento diversificado que constitui a herança cultural humana, e deixar o fazer por conta dos atores mais pragmáticos que já atuam com sucesso e atualização permanente de seus serviços no mercado.

(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 9)
(Paulo Nathanael Pereira de Souza - Doutor em educação e presidente do Conselho de Administração do CIEEE-mail: imprensa@ciee.org.br)

Economia do Nordeste deve crescer acima da média nacional em 2009


04/11/2008
Recife, 4 de Novembro de 2008 - A economia do Nordeste não deverá sofrer os impactos negativos da crise financeira mundial e manterá, em 2008, a tendência verificada nos últimos anos, de crescimento acima do nacional. A avaliação é do economista Alexandre Rands, sócio da Datamétrica Consultoria, com sede no Recife, que projeta um aumento de 5,50% para o PIB nordestino e de 5,18% para o brasileiro. "O Nordeste deve continuar crescendo mais, está numa situação favorável na atração de investimentos em relação a outros estados", analisa Rands, embora acredite que os anúncios de novas fábricas serão reduzidos em 2009 ou pelo menos protelados.
Na região, ele destaca Pernambuco e o Maranhão com previsões para 2008 de elevações do PIB de 6,10% e 6,95%, respectivamente, seguidos pelo Rio Grande do Norte, com 5,41%. Nos dois primeiros estados, o crescimento decorre de resultados da infra-estrutura rodoviária - implantada em governos anteriores - e de recursos naturais como os minérios e o avanço da produção de grãos, enquanto no Rio Grande do Norte é o turismo que puxa o desenvolvimento do estado.
Responsável por cerca de 40% do PIB regional, pelos estudos da Datamétrica, a Bahia deve crescer 5,35% e o Ceará, que junto com Pernambuco tem cerca de outros 40% de participação, 4,78%. "Estes estados estão superando seus problemas e retomando a produção industrial que, no caso do Ceará, sofreu muito com a importação", diz Rands. Para o Piauí, a projeção é de um crescimento de 5,09% e de 5,06% para a Paraíba. Sergipe, que tem um dos melhores PIBs per capita da região, terá uma elevação de 4,87%. O pior desempenho ficará com Alagoas que aumentaria seu PIB em 4,12% em 2008.
Se a indústria nordestina não terá boas lembranças deste ano, o mesmo não se pode dizer da agropecuária. A estimativa de crescimento do Valor Bruto de Produção Agrícola do Nordeste é de 10,9%, acima da brasileira, de 9,07%.
Para 2009, Alexandre Rands prevê um cenário mais otimista que os já apontados após a crise internacional e um crescimento do PIB nacional da ordem de 3,55% e de 3,81% para o Nordeste. "Já se fala em apenas 3,1% para o Brasil, mas não acredito que vamos crescer tão pouco e não me surpreenderia se chegarmos a 4%. A nossa economia está bem estruturada para isso e, 3,55% é um bom padrão para um país em desenvolvimento", considera.
Os grandes projetos em construção em Pernambuco, como a refinaria da Petrobras e o Estaleiro Atlântico Sul, atingirão o pico das obras em 2009, tornando-se fundamentais para que o Estado cresça ao menos 4,20%. O Maranhão, que tem quase R$ 40 milhões em projetos agendados e em implantação, cresceria 5,06%. A desaceleração do crescimento dos Estados e, consequentemente, do Nordeste, segundo Rands, reflete a redução de demandas e das vendas retraídas com a crise.
A elevação do dólar não deve trazer um efeito imediato nas exportações da região, concentradas em commodities agrícolas ou minerais e que não têm sua produção focada no mercado externo. "Fora a Ford, da Bahia, que ainda assim depende de uma estratégia mundial para voltar a exportar, não vejo uma elevação rápida nas exportações. Isso só deve ocorrer se o câmbio continuar alto nos próximos dois a três anos", analisa.

(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8) (Etiene Ramos)